quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Secretários ajudaram ex-prefeito de Catende provar defeito em tornozeleira eletrônica

A Polícia Civil descobriu que políticos e secretários do governo estadual ajudaram o ex-prefeito de Catende, Otacílio Alves Cordeiro (PSB), a provar que havia defeitos na tornozeleira eletrônica utilizada por ele durante a prisão domiciliar. O ex-chefe da administração desse município da Zona da Mata Sul de Pernambuco foi um dos presos da Operação Tsunami, deflagrada em junho de 2016, e deixou de cumprir a determinação judicial para usar o dispositivo de monitoramento, segundo a corporação.
Durante o período da operação, Otacílio foi acusado pela Polícia Civil de ter desviado R$ 15 milhões de contratos de licitações. Na época, os policiais encontraram, na casa do prefeito e no posto de gasolina do filho dele, armas e R$ 1 milhão. Também foram apreendidos documentos de operações bancárias. Ao receber voz de prisão, o político passou mal e foi socorrido para um hospital no Recife em uma ambulância.
Depois de ser preso, Otacílio Alves Cordeiro passou 19 dias no Centro de Observação e Triagem Professor Everaldo Luna (Cotel), em Abreu e Lima. De acordo com a defesa dele, o ex-gestor do município de Catende tinha problemas de saúde, era idoso e podia esperar o julgamento do processo em prisão domiciliar. Com o pedido acatado pela Justiça, Otacílio seguiu para casa com uma tornozeleira eletrônica, para ser monitorado pela Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres).
De acordo com um documento da Seres, a tornozeleira eletrônica usada pelo ex-prefeito estava sem o sinal de localização no dia 5 de julho porque Otacílio não estaria carregando a bateria do equipamento. No dia 6 do mesmo mês, ele foi chamado ao Centro de Monitoramento de Reeducandos, no Recife, e foi advertido sobre as violações nas regras de monitoramento.
No mesmo documento da Seres, o secretário executivo de ressocialização, Cícero Márcio, afirmou que, apesar de não haver nenhum defeito na tornozeleira eletrônica, foi realizada a troca do equipamento por uma questão administrativa. Dessa forma, Otacílio voltou para casa com um novo dispositivo. No dia 13 de julho, segundo a Seres, o novo equipamento deixou de funcionar e, por 20 minutos, o ex-prefeito não foi localizado. Diante disso, a prisão domiciliar foi revogada e ele voltou para o Cotel.
Com a chegada desses documentos ao Fórum Thomás de Aquino, no Recife, a Polícia Civil descobriu a interferência de políticos e secretários do governo a favor do ex-prefeito de Catende. No inquérito policial, o filho de Otacílio, Paulo Cordeiro, pediu ao secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, um ofício dizendo que houve a troca da tornozeleira. O documento, no entanto, não saiu da forma desejada pelo parente do ex-gestor.
Ainda no inquérito da Polícia Civil, o secretário executivo de Ressocialização, Cícero Márcio de Souza Rodrigues, disse que não atendeu ao pedido de Paulo Cordeiro, mas depois, a pedido de Pedro Eurico, retirou a frase que “desagradava o ex-prefeito de Catende”.
Em depoimento, Cícero Rodrigues afirmou que ele e Pedro Eurico chegaram a um consenso para retirar a frase “apesar de não haver nenhum defeito técnico, por uma questão de rotina administrativa, foi realizada a troca de equipamento de monitoramento”. Eles também concordaram que o novo ofício teria a mesma data do primeiro documento, emitido em 15 de julho de 2016.

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