terça-feira, 1 de novembro de 2016

Cachoeirinha-PE: Beneficiário do Bolsa Família é eleito vereador !!

 Terra dos arreios em couro e aço, artesanalmente confeccionados para o uso de animais em montaria, famosa pela produção de queijos e carne de sol, as eleições municipais revelaram que de uma simples brincadeira foi possível sair das urnas o vereador mais votado do município: Luis Francisco da Silva, o Lula Preto, 58 anos, que ganhou a simpatia de 1.662 (13,7% dos votos válidos) eleitores fazendo versos, cantando mourão voltado e imitando Tiririca, de quem é fã de carteirinha.
“Vamos lá minha gente/Que a hora já chegou/Vote em Lula Preto/ Que é o seu vereador/Vamos votar minha gente/Vamos ver como é que fica/Do jeito que estou vendo/ Vai ser que nem o Tiririca”. Era assim, com versos associando sua imagem ao do palhaço que se elegeu e se reelegeu deputado federal por São Paulo, que Lula Preto conquistou fãs e eleitores em comícios e caminhadas durante a campanha eleitoral deste ano.
De sua zona de influência, a Vila de São Sebastião, área mais pobre da cidade, saiu grande parte dos seus votos. É lá, onde moram cerca de duas mil famílias, em casas simples de alvenaria, sem calçamento e carente de serviços públicos, que é possível compreender também o fenômeno Lula Preto. “Sai candidato por uma simples brincadeira. Uma amiga soprou no meu ouvido para eu tentar uma vaga na Câmara. Fui procurar o candidato a prefeito e ele me disse que apoiava. Topei a parada e ganhei. Não sei como, mas ganhei”, lembra.
Ninguém acreditava no seu potencial eleitoral, nem mesmo a família, uma prole de oito filhos, 13 netos e mais dois agregados. “Para mim, isso ainda é um sonho que estamos vivendo”, desabafa a esposa Maria Aparecida Silva. Segundo ela, a descrença se dava pela falta de recursos, estrutura e apoio dos poderosos que fazem da política um negócio lucrativo. “Nós somos muito pobres. No primeiro comício, Lula não tinha sequer um sapato para calçar”, acrescenta.
Cida, como é tratada pelo marido, conta que sempre levou uma vida sacrificada. “Quando as coisas apertavam a gente pedia esmola e até hoje a gente se mantém por causa da bolsa”, diz, referindo-se ao programa Bolsa Família, de forte distribuição de renda nos grotões nordestinos e nas comunidades carentes de todo o País. Lula Preto batalha pelo pão de cada dia desde garoto, aos 12 anos, quando foi praticamente adotado pela família de um fazendeiro, em São Caetano.
Estudou até a 4ª série, passou dez anos trabalhando em um curtume. “Lá, eu fazia de tudo. Arrancava mato e toco, carregava couro nas costas e cuidava da roça do patrão”, revela o agora parlamentar, que nasceu na Vila Espírito Santo, em São Bento do Una. Depois de deixar a vida no mato, Lula virou servente de pedreiro, mas sem vínculos trabalhistas, vivendo praticamente de bicos. “Não é todo dia que aparece serviços. Desde a eleição que estou parado, vivendo das graças de Deus”, afirmou.
Com três quartos e sala, a casa em que mora tem água encanada e energia, mas só recentemente conseguiu construir o banheiro. Em 2006, durante a cheia do Rio Una, que ficou marcada na memória da comunidade de São Sebastião, foi obrigado a abandonar o casebre por ter sido condenado. Anos depois, voltou para o mesmo terreno e reconstruiu a sua moradia com doações de amigos e do comércio da cidade.

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