
“Vamos lá minha gente/Que a hora já chegou/Vote em Lula Preto/
Que é o seu vereador/Vamos votar minha gente/Vamos ver como é que fica/Do jeito
que estou vendo/ Vai ser que nem o Tiririca”. Era assim, com versos associando
sua imagem ao do palhaço que se elegeu e se reelegeu deputado federal por São
Paulo, que Lula Preto conquistou fãs e eleitores em comícios e caminhadas
durante a campanha eleitoral deste ano.
De sua zona de influência, a Vila de São Sebastião, área mais
pobre da cidade, saiu grande parte dos seus votos. É lá, onde moram cerca de
duas mil famílias, em casas simples de alvenaria, sem calçamento e carente de
serviços públicos, que é possível compreender também o fenômeno Lula Preto.
“Sai candidato por uma simples brincadeira. Uma amiga soprou no meu ouvido para
eu tentar uma vaga na Câmara. Fui procurar o candidato a prefeito e ele me
disse que apoiava. Topei a parada e ganhei. Não sei como, mas ganhei”, lembra.
Ninguém acreditava no seu potencial eleitoral, nem mesmo a
família, uma prole de oito filhos, 13 netos e mais dois agregados. “Para mim,
isso ainda é um sonho que estamos vivendo”, desabafa a esposa Maria Aparecida
Silva. Segundo ela, a descrença se dava pela falta de recursos, estrutura e
apoio dos poderosos que fazem da política um negócio lucrativo. “Nós somos
muito pobres. No primeiro comício, Lula não tinha sequer um sapato para
calçar”, acrescenta.
Cida, como é tratada pelo marido, conta que sempre levou uma
vida sacrificada. “Quando as coisas apertavam a gente pedia esmola e até hoje a
gente se mantém por causa da bolsa”, diz, referindo-se ao programa Bolsa
Família, de forte distribuição de renda nos grotões nordestinos e nas
comunidades carentes de todo o País. Lula Preto batalha pelo pão de cada dia
desde garoto, aos 12 anos, quando foi praticamente adotado pela família de um
fazendeiro, em São Caetano.
Estudou até a 4ª série, passou dez anos trabalhando em um
curtume. “Lá, eu fazia de tudo. Arrancava mato e toco, carregava couro nas
costas e cuidava da roça do patrão”, revela o agora parlamentar, que nasceu na
Vila Espírito Santo, em São Bento do Una. Depois de deixar a vida no mato, Lula
virou servente de pedreiro, mas sem vínculos trabalhistas, vivendo praticamente
de bicos. “Não é todo dia que aparece serviços. Desde a eleição que estou
parado, vivendo das graças de Deus”, afirmou.
Com três quartos e sala, a casa em que mora tem água encanada e
energia, mas só recentemente conseguiu construir o banheiro. Em 2006, durante a
cheia do Rio Una, que ficou marcada na memória da comunidade de São Sebastião,
foi obrigado a abandonar o casebre por ter sido condenado. Anos depois, voltou
para o mesmo terreno e reconstruiu a sua moradia com doações de amigos e do
comércio da cidade.
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